
Embora já se evidenciasse um crescendo de turismo rural na última década, com a pandemia de COVID-19 esta tipologia de turismo efetivamente tem-se revelado como um fenómeno à escala global. Note-se que o turismo rural não é um conceito novo. De facto, diversos estudos recentes apontam que o turismo rural é o turismo de eleição neste período pandémico e com tendência a prolongar-se no pós-pandemia. Isto deve-se ao facto deste tipo de turismo se afastar dos padrões do turismo de massas.
Focando a escala nacional, o exemplo do território da Região Autónoma dos Açores é uma mais valia para compreender esta temática. Os Açores têm sido reconhecidos nos últimos anos pelas boas práticas de sustentabilidade territorial. É de conhecimento geral as singularidades e especificidades, nomeadamente paisagísticas, entre outras que esta região apresenta. Ainda que existam diversos obstáculos ao seu progresso e desenvolvimento regional, muito por culpa da sua própria localização geográfica tornando-o o território “mais” ultraperiférico Europeu, tais caraterísticas parecem ter catapultado os Açores e o seu turismo regional para um novo paradigma (pré e durante o atual período pandémico). Os Açores e o turismo rural estão na moda, é inegável! Desta forma, nestas regiões, caso a gestão do território não se afaste das diretrizes de sustentabilidade previamente traçadas, poderão afirmar-se e desenvolver-se de forma efetivamente sustentada catalisadas por tal tipologia de turismo. Todavia, caso estes territórios de baixa densidade, ultraperiféricos e periféricos (recorde-se que este fenómeno não se verifica apenas na Região Autónoma dos Açores, poderíamos aqui referir o Alentejo, ou da esmagadora maioria dos territórios de fronteira com Espanha, entre tantos outros exemplos, nacionais e internacionais), sigam de facto os princípios de sustentabilidade e de desenvolvimento e planeamento regional sustentável sairão fortalecidas (setores fundamentais para o desenvolvimento e crescimento) deste momento de crise, e possivelmente bem lançados para o futuro. Contudo, caso esse cenário não se verifique, pode existir o risco de uma transição para um turismo de massas, o qual deitaria por terra toda a intenção do desenvolvimento regional sustentável bem como de alcançar a tão desejada sustentabilidade – evitando, de certa forma, cenários que se verificam em regiões ultraperiféricas como as Canárias ou a Madeira, territórios que possivelmente sofreram um percurso semelhante.
Em suma, devido ao aumento da procura por estes territórios, o turismo rural terá necessariamente de ser acompanhado por uma gestão estritamente competente e com clareza dos objetivos traçados, tal como o seu planeamento – o qual poderá até necessitar de uma redefinição do seu o próprio plano de turismo rural, uma vez que, seguramente, não está preparado para novas massas que se avizinham. Considerando esta aparente tendência atual do turismo, reside a questão sobre como manter o turismo rural sustentável, isto é, não permitindo que evolua para um indesejado turismo de massas.
Contextualmente, deve ser feita referência ao facto do turismo rural contribuir, também, para o desenvolvimento da urbanização, o que pode conduzir a novos conflitos de recursos e, caso não sejam prontamente resolvidos, potencialmente irão levantar problemáticas socioculturais. Aqui, poderiam levantar-se questões específicas adicionais como a descaracterização dos territórios ou a resistência das populações locais à mudança… “nem tudo são rosas”. A título de exemplo pode-se abordar a investigação de Yu e a sua equipa em 2015, onde se evidencia que a rivalidade entre tradição e modernidade pode ser entendida como uma colisão sociocultural.
Em última análise, fica não só a “chamada de atenção” para os decisores regionais e principais atores relacionados com a atividade de turismo rural resistirem à tentação da massificação do turismo, mas também para o papel decisivo que o turismo rural pode representar no turismo e em todas as atividades direta e indiretamente a este relacionadas (qual tábua de salvação).
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